sábado, maio 29

Pouco a pouco

Observo você do outro lado da sala ao mesmo tempo em que tento disfarçar os rápidos olhares. Você é, a mim, muito interessante; com todo esse jeito xis, que já me disseram jamais tentar compreender, os meus olhos viram e reviram e a minha mente questiona cada movimento.

Consigo sentir aos poucos sua aproximação. Mas não creio que seu interesse vai além de assuntos burocráticos e casuais. Porque tenho sérios problemas em ver de forma otimista o meu presente e o meu futuro, mesmo torcendo no fundo para dar certo...

Você chega aos poucos e tenta aos poucos, mesmo com atitudes insanas e eu continuo na divergência de ideias, escrevendo coisas confusas e que assumem pouco sentido diante dos olhos de segundos, terceiros, quartos...

Um quarto da hora passa e você senta-se ao meu lado. Instintivamente vejo que a sala não diminui, que não me falta ar nos pulmões e que o pulso continua no mesmo ritmo. Assim consigo olhar nos seus olhos, mas acabo desviando para as suas mãos, que me prendem a atenção.

Mas isso não vem ao caso, porque o assunto termina, eu continuo normal e lá dentro algo sorri bem íntimo e começa a acreditar que tudo pode mudar desde que eu não feche a porta mais uma vez.

Então, a resposta vem me dizer que o tempo vai chegar junto com você, pelo mesmo caminho.

domingo, maio 23

Devaneios

Há muito tempo eu tenho adiado voltar para essas páginas. Por uma série de acontecimentos, acabei distante e sem imaginação para ver palavras fluindo da ponta do lápis como nas semanas anteriores.

A manhã está geladinha e a rua silenciosa; vejo meias embaixo da cama, copos de água espalhados pelos cantos, livros pelo chão e eu aqui sentada, vendo o céu azul e sem nuvens pela janela.

Os fatos que me mantiveram afastada insistem em voltar para ocupar minha cabeça, que até o momento vivia do ócio. Conclui que tudo será resolvido com o tempo, pois soluções imediatas são para o caos e no momento a minha vida anda tão normal quanto à do senhor da banca que trocou figurinhas comigo semana passada.

Decido deixar a mente vagar silenciosa e ela tropeça em você... Nada mais irônico ou casual! Diante de uma infinidade de medos em incertezas quanto ao futuro, eu acabo sempre chegando a você com o meu passado na bagagem! Quanto egoísmo da sua parte, fazer-se sempre presente nos meus devaneios!

Confesso que me sinto irritada com essa simples presença. Você toma todos os espaços, mexe nos lugares mais íntimos e acompanha cada detalhe de cenas que eu escondo até de mim. Você me leva até o espelho, faz insinuações com os olhos e coloca palavras na minha boca, apontando todos os erros.

‘Sai daqui!’ Ouço a voz rouca sair dos meus lábios, enquanto as lágrimas correm soltas pela face, sinto os arrepios e começo a reviver todas as cenas, pausadamente... Quando dou por mim, continuo a fitar o espelho, com os olhos inchados, na esperança de que você desapareça e leve junto aquilo que me aflige.

Mas não, você volta, sempre volta, porque gosta e não abre mão de se divertir.

quarta-feira, maio 5

Alguém

Na verdade eu acordei de repente e estava deitada no sofá com as luzes apagadas e de jeans. Consegui ir para cama e cai novamente em sono profundo. Quando me dei conta a movimentação era intensa, os convidados já estavam chegando, decoração, música e ambiente perfeitos, apenas a minha espera.

O vestido estava lá, em algum lugar, pronto para ser usado. Porém, dentro do meu peito a inquietação crescia, junto a palpitações que não sessavam... Eu não queria aquilo! E se não desse certo? Eu nunca havia beijado-o! Como poderia ter certeza daquilo que estava fazendo se ainda não havia decidido o que fazer para o resto da minha vida? Comecei a sentir que ali não era o meu lugar, mas que ainda assim precisava estar ali... Minhas mãos suavam, as lágrimas tomavam conta, mas não ousavam cair e eu aflita ainda olhava para a janela, alternando os passos entre a porta, no carpete macio cor de creme.

Ela entrou pela porta, com um sorriso de excitação desejou-me um maravilhoso dia. Contou-me que a tarde estava linda e que o crepúsculo prometia ser encantador e conduziu-me por aquele monstruoso quarto. Como se a minha aflição não tivesse importância, meu cabelo foi moldado e o rosto recebeu a mais fina arte. O roupão foi deixado ao chão sem o menor pudor e aquele tecido branco evolveu cada centímetro.

Abri meus olhos e as pessoas sorriam, contavam casos engraçados, me abraçavam e eu bebia. Olhava para os lados e reconhecia os rostos mas não o encontrava. A música estava alta e entrava em conflito com milhares de vozes que disputavam o ambiente, até que tudo escureceu....
Minha visão foi bloqueada por duas mãos que logo reconheci serem suas. Apertei – as com força e sorri. Não senti o seu perfume, mas você me abraçou por trás e disse em baixo tom o tamanho da sua felicidade e do seu gostar. Você me abraçou novamente com muita força e eu tornei a fechar os olhos.

Quando abri, já era dia, a janela estava fechada e eu continuava de jeans, porém o calor do seu abraço ainda continuava nas minhas costas e o seu rosto não estava na memória porque não te vi.

segunda-feira, maio 3

All my loving

Eu quero te encontrar nas esquinas, perdido em um beco, no lugar escuro, fechado e cheio de gente. Espero sentir você dentro de mim como semente, desejo e sexo. Cuidar, saber onde está e se possível carregar no bolso para que você não possa fugir. Cometer erros, me passar por pecado, ser visto como louco e ter a sua mão na minha, nas costas, na nuca, desejo.

Inspirar-me em clichês, traduzir sentimentos em rosas e ver nos seus olhos verdades não ditas. Crer na sua companhia algo maior que a carne, que reflete conselhos, experiências e aventuras secretas inacessíveis aos terceiros do nosso mundo.

Ao ver você sair de mim e me sentir imponente. Porém, saber que esse grão é frágil e eu muito maior talvez não possa proteger por todo o caminho recente que vai começar a traçar. Conhecer suas mentiras, ter sonhos bons e ver você partir, mesmo não querendo que vá e sabendo que será importante.

Ainda tento te encontrar de boca em boca ou sozinha no bar. Sentir-me criança para imaginar você romper pela porta, me tomar pela cintura, olhar no fundo dos meus olhos e ter apenas o luar como cúmplice.

No fim, eu tento encontrar a definição exata. Apego-me a frases feitas e descubro que é tudo abstrato. Não há caminho certo e as falhas tentam torná-lo perfeito e inexplicável.