segunda-feira, março 29

Clichês


Meu coração dispara, minha respiração segue em descompasso, o tempo para e meus olhos só vêem você. De repente o toque dos seus dedos deixa marcas, sinto os poros se abrindo para deixar seu perfume entrar e invadir o restante dos meus sentidos. E quando nossos lábios se encontram, o momento vira música, as estrelas caem do céu e deixa a lua, soberana, iluminar nosso amor, que se torna dançante e infinito.
Nesse mesmo ritmo os dias passam, com tardes regradas a chocolates e morangos, noites doces e gentis, que esperam pacientes a minha deixa para os acontecimentos seguintes. E não penso nos desejos que querem você dentro de mim, sigo apenas o coração que me diz que é amor. Não ligo para súplicas carnais, esperando por seus dentes descendo pelo rosto, ao mesmo tempo em que sinto seus dedos dentro de mim.
Não creio que nossos atos sejam pecados, apenas amor. A cada breve instante que estamos juntos sinto suas mãos percorrerem o meu corpo com vontade, já conhecendo o caminho, mas deixando a cada toque novas sensações. E as minhas mãos se tornam experientes e ágeis para encontrar a felicidade que me faz tremer e queimar.
Porém você foi embora. Não atendeu aos meus chamados e nem voltou a me procurar. Fico sentada a sua espera, mas se torna em vão. Enquanto isso o buraco se torna mais fundo, o meu coração se quebra em mil pedaços, não consigo ver o meu reflexo no espelho, meu corpo dói e minha garganta seca, pedindo você. Ainda assim não vejo você pela porta, me pedindo de joelhos para voltar, dizendo que sente saudades e que precisa de mim.
Não consigo acreditar que o tempo não irá voltar. Passo os dias na literal escuridão, fugindo de mim, derramando lágrimas pelos lençóis e sem forças para afugentar medos e vergonhas, que aparecem a todo instante me fazendo sentir culpada e suja por tudo o que passou.
Até que as lágrimas secam, os monstros desaparecem e eu abro as cortinas deixando o sol entrar para iluminar a minha cabeça e o meu caminho.

sexta-feira, março 12

Meu ideal seria escrever...

Meu ideal seria escrever historias de todos os tipos, todas as cores e todas as situações. Que por onde quer que elas passassem deixariam uma lembrança, algo novo e inusitado. As pessoas que as lessem, seriam pessoas bonitas, feias, ricas, pobres, enfim, seres humanos iguais em algum lugar, e diferentes nos seus sentimentos, pois o objetivo das minhas historias, seria alcançar o coração, no sentimento mais intimo.
Sentimentos que trouxessem reações aos olhos, aos abraços, ao riso, a boca... e que por um tempo, essa chama não se apagasse, pois seria um sinal de que estariam vivos e amando. Pois o amor, na sua forma correta, é um sentimento puro, bonito, sincero e profundo. Que nos leva a reações impensadas e inexplicáveis.
Essas historias, atravessariam os sete mares, os continentes, as culturas e as indiferenças. Pois o amor contido nelas, não seria apenas de dois amantes, ou entre pais e filhos ou amigos, seria também um amor solidário, apaziguador e coerente. Que por um tempo, mais uma vez, levaria as pessoas a pensar nas guerras, na fome e na miséria. Com esse amor, os povos se uniriam em uma só nação para se ajudarem mutuamente e evoluiriam a fim de transformar.
Enfim, eu teria uma recompensa por fazer o bem apenas com palavras. Veria a paz mundial se formar diante dos meus olhos, como uma miss espera tanto a coroa e ao fim, me perguntaria se não foi utópico demais.

segunda-feira, março 8

Verdades

O sono não vinha. Os acontecimentos daquela tarde se repetiam em sua mente, sem o benefício da pausa. Ela tinha escolhas a fazer, caminhos a seguir e encontrava-se perdida. Aquelas frases continuavam a ecoar sem fim, “você precisa se decidir... terá que contar com alguém que possa te ajudar... ele não irá tomar iniciativa, até que você faça alguma coisa... você tem pouco tempo”. Ela fechava os olhos com força, mas nada removia aquilo da sua cabeça. Então, voltava a contemplar o teto escuro e silencioso.
A verdade é que ela não queria admitir que ele não houvesse mudado, mesmo depois desses anos que ela teve que tomar medidas graves e de sérias consequências. Que até hoje mantêm quase palpável as cicatrizes emocionais. Ter que aceitar que velhos hábitos nunca mudam, a deixam aflita, pois ver os defeitos dele torna os seus nítidos também, saber que na decisão de pequenas coisas ela vê partes dele.
Ela teme o próprio medo, um dia lhe disseram. Não quis acreditar, soltou um riso sarcástico e mudou o tom da conversa. Mas agora, naquele instante não havia para quem representar, mostrar-se auto suficiente, confiante, dona de uma opinião inabalável e uma inteligência que há muitos surpreendia. As lágrimas brotaram em seus olhos, mas não de pena ou dor, sentia-se anestesiada, apenas tomava consciência, talvez, do que ela se fazia passar para não se mostrar.
Porém o momento de auto punição acabara. Enxugou as lágrimas com as mãos e decidiu que tinha coisas a fazer. Mas antes que pudesse tomar nota de qualquer ideia, o sono chegou, para deixá-la escapar mais uma vez da escolha de seus caminhos.

sexta-feira, março 5

Fascínio

Eu fechei o livro e fiquei a imaginar o que poderia acontecer se ele não tivesse fim, ou se a história poderia continuar a acontecer até que eu pudesse participar também. Depois de ler, reler e tornar a ler mais uma vez, naquela noite eu me perguntei, sem a esperança de obter resposta, qual era o poder que aquelas mágicas palavras tinham sobre mim. Qual seria o motivo de perder meu tempo devorando uma história como se fosse a primeira vez.
Realmente, lembro-me da primeira vez em que isso aconteceu. O desconhecido era tão misterioso, eu queria fugir do meu mundo e acordar no dia seguinte vendo a neve pela janela, tomar suco de abóbora, vasculhar cada centímetro do castelo e ter a magia ao meu lado. Porém o encanto não era suficiente para que tudo aquilo que eu lia se tornasse realidade. Eu continuava sob a luz do abajur refazendo as cenas na minha cabeça.
O tempo foi passando e muito do que aconteceu comigo, foi reflexo de um encanto guardado na memória de uma criança, no comando de um ser em constante transformação. O que ainda surpreende são os risos deixados por mim pelas páginas, as lágrimas às vezes derramadas por mesmas linhas e as emoções a flor da pele em cada ponto. Assim como as amizades feitas e as lições de uma lealdade, inteligência e coragem que fascina a quem consegue entender. Muitas vezes, até sonhos foram o suficiente para deixar lembrança e me avisar que estou no mundo real, que a magia absorta de mistérios está apenas entre capas, mas não deixa de ser importante para quando eu quiser voltar lá e viver tudo outra vez.