quarta-feira, abril 28

Espelho


Às vezes quando me olho no espelho, ou simplesmente observo o céu através da janela, minha mente viaja, ideias surgem a todo o momento e desaparecem como fumaça, as lembranças tomam conta e trazem sentimentos guardados na incoerência, que faz surgir lágrimas e risos. Até o vento frio me envolve da raiz à ponta dos pés, numa mescla de desejo e abandono.
Isso me leva a imaginar mais e ao mesmo tempo em que penso sobre rosas, chego à conclusão que existem espinhos, que são difíceis de evitar ou tirar da palma da mão. Mas não esqueço de suas cores vibrantes ou não, que sempre trazem algum significado.
Significados que tento encontrar nos sonhos, para justificar a inocência do meu ser, a cada dia em transformação. As dúvidas crescem, a mente fervilha, os hormônios atiçam e a falsa razão faz-nos crer sermos sua dona! Porém, com o tempo e sem vergonha, vamos despindo as máscaras e a metamorfose entra em seu ciclo lento, mas gradativo, até o fim dos tempos.
De repente, os sons se tornam existentes, tudo sai do preto e branco e se torna fixo. Vejo meu reflexo ,observo o céu negro e sem estrelas, sinto as pálpebras pesarem e resolvo dormir, um sono pesado e sem sonhos conscientes.

domingo, abril 18

Atração

Eu gostaria de contar a você coisas que jamais pensou em ouvir. Não são fofocas do dia-a-dia, nem lamentações de uma adolescente em crise, ou palavras de um futuro bom, muito menos declarações platônicas embasadas em clichês.
Na verdade, gostaria de conseguir chegar até você sem saber que fico vermelha, que tento arrumar esse cabelo volumoso de forma indefinida, passando a mão mais do que necessário; que o meu olhar desvia do seu rosto sempre que quero focalizá-lo e que as minhas mãos ganham vida e se movem freneticamente.
Vejo você sempre do outro lado do corredor, apenas observando. Tudo o que passa pela minha cabeça são pensamentos indefinidos, porque não o conheço, não sei quem de verdade é você, só sei que isso me atrai...
O que eu tenho para te contar são coisas normais, apenas para iniciarmos uma conversa. Mostrar a você, com toda sinceridade, quem sou eu e descobrir se o que você é, realmente é aquilo que eu ando imaginando.
Talvez valha a pena, talvez não. Crio mil e um empecilhos e a coragem nunca vem. Você continua do outro lado do corredor e eu aqui imaginando o que você acha de mim. Lembro-me de acontecimentos passados, que eu sei que tomou conhecimento, e me pergunto o que você pensa sobre isso...
Fico mais uma vez esperando coragem. Ela vem tímida, aos poucos, mas me dando indícios de que irá chegar, tocar a campainha e eu toda feliz e saltitante irei abrir a porta com um sorriso no rosto. Vou mandá-la entrar e pedir para que se sinta em casa, enquanto eu explico a situação, porque você ainda me atrai.

sexta-feira, abril 16

Exageros

Vejo as coisas ao meu redor e nada se encaixa nos momentos de ociosidade. Os números, os cálculos estequiométricos e a gramática não parecem fazer sentido. A concentração some e fico aqui a olhar o teto tentando desvendar algum mistério inexistente.
Chego à sacada ao entardecer, vejo as pessoas voltando para casa com suas mentes ocupadas, outras enamoradas correndo para curtir o pôr-do-sol à beira da praia e o mar ali, sereno, indo e voltando, levando embora as marcas na areia, sempre no mesmo movimento.
Volto para o meu quarto, sento em frente ao computador e ainda assim não consigo me achar. A inspiração me falta, vejo as marcas de dedos no espelho e chego à conclusão que o mundo irá acabar! Exageros a parte, concluo também que do futuro nada me espero, que serei mais uma no mundo e o dever pode ficar para amanhã.
Simplesmente desisto! Mas só por hoje, porque amanhã é um novo dia, de novas ideias. Enquanto ele não chega, eu volto para o mar e peço a ele que me leve junto para descobrir os horizontes.

segunda-feira, abril 5

Silêncios


Não há barulho, não há ninguém na rua. O caminho segue ladeira a baixo, a única coisa que sinto é o requebrar dos quadris e o vento que molda o vestido no meu corpo e tenta me impulsionar para trás, para o começo da estrada. Nada disso é forte o bastante para me fazer voltar, nem as lembranças... Só o que me mantêm é o fim da estrada, um ponto azul que se estende pelo horizonte de forma abstrata.
O que mais incomoda é a ausência de movimento, sons e corpos físicos; descer por esse caminho de pedras, a observar os casarões antigos, todos com portas e janelas fechadas, vivendo sós para si. Se pudesse atender um desejo, seria talvez o direito a realizar três pedidos – um pouco surreal, eu sei, mas podemos não estar no mundo real. A começar pelos sons, além da voz em minha mente, quero uma trilha sonora, que me balance, preencha os vazios que os objetos são incapazes de ocupar, que abra as portas e janelas e que seja o ritmo da descida a cada batida.
Desejo também humanos, cabeça, tronco e membros, com pele, calor, sentido e expressões. Que me peguem pela mão e me leve junto com eles para qualquer sentido, seguindo o ritmo ditado pela música. Quero que abusem dos meus pés e da minha cintura com a dança que jamais pensei em fazer. Sentir-me cansada, mas leve, como se não estivesse no chão e por alguns momentos talvez tonta, suada e com os pés doendo.
Além disso, desejo também algo que ainda não sei, pois me falta inspiração e criatividade. Poderia desejar que se fosse sonho, que nunca acabe, para que eu possa ficar aqui livre do mundo real. Mas se não, prefiro pensar mais um pouco e quando descobrir, eu venho te contar.