sábado, agosto 28

Breve

Eu prometo ser breve. Eu não vou tomar muito do seu tempo, que é um pouco precioso... Eu só queria dizer a você que, sim, eu senti saudades e reparei que você não veio me dar um abraço... O tempo passou e é como se realmente suas preocupações não fossem mais sentimentais, apenas materiais. E eu não gosto de pensar assim, afinal de contas nós temos um laço que nos mantêm unidos, porém com o passar do tempo ele vem se distanciando. Tanto eu como você temos culpa nesse problema mútuo. Você está deixando ir de acordo com a maré, cada vez mais longe e eu estou deixando escapar pelos dedos... Enfim, é isso.

segunda-feira, agosto 23

Trilha Sonora

Minhas pequenas personagens desapareceram então mandei meu narrador tirar férias para eu tentar lapidar as palavras de outra forma. A tarde é morna, não quero música alta, por isso o volume é mínimo e as unhas vermelhas estão se fazendo presentes a cada momento. As fotos que olham para mim congelam os mesmos sorrisos enquanto Bono me diz que perdeu algo, que me queria com ele para fazer certo e dar algumas voltas.

Essas voltas me tiram dos eixos. As coisas ao meu redor começam a passar como borrões coloridos, com atos vagos, cartas guardadas, emoções não vistas e convivência com pessoas e outros bichos. Uma voz no fundo vem me dizer para ter cuidado, pois há perigo na esquina...

Esquina da minha casa, da minha vida que irá me levar para algum lugar, trazer escolhas, monstros e paixões para me fazer abrir a porta e deixar tudo isso entrar e tentar permanecer para não mais voltar aqui no primeiro andar dessa rua central de quarto iluminado.

Fico me perguntando quando irei me sentir Nicky com um gato preto em baixo do casaco, ou se ficarei a espera de alguém me chamar de garota bonita para ficar com ele, ou se deixarei meninos escalarem as paredes, capturados por feitiços e falando minhas línguas.

Creio não ter o perfil de uma garota do verão como tanto canta Steven, prefiro ser baixinha com as mãos no bolso, livre e com alguns amigos a espera de primaveras fora de estações.

Por isso vou pensar com carinho quando me pedires para ver minha alma, vou catar moedas que encontrar pelo chão e no fim pedir ao que bate aqui dentro para não te amar mais que a mim.

domingo, agosto 15

Sem final...

Essa semana me contaram que nem o amor sabemos o que realmente é... Decidi fugir para viver essas aventuras, encher o baú de memórias e cultivar a vida no eterno palco, para transformar cada anônimo em espectador. Mas antes de fazer as malas e comprar a passagem eu me perguntei quantas vezes já não havia fugido sem nada e muitas vezes sem mim.

Foram fugas em livros, fugas em furtos e fugas de casa, que me deixaram nua, à exposição do mundo e mudanças de ideia. Que me transformaram em algo que atrai pessoas, que pula de precipícios para sentir a adrenalina e faz tudo virar contos de fadas.

quinta-feira, agosto 5

Posse

Ele resolvera voltar para o seu mundo, já estava cansado daquele cotidiano rápido e tecnológico, aonde as pessoas iam e vinham apressadas, esquecidas da subjetividade, com encontros noturnos intensos e de poucas horas de duração. Em que viam no álcool o caminho correto para sorrisos abertos, movimentos frenéticos e um suposto carisma, que com o tempo tornava-se insuportável.

Por trás dos óculos escuros, seus olhos vagavam pelas areias, céu, mar e chegavam onde ela estava guardada, segura e secreta de si mesma e dos outros que já tentaram roubá-la. Ele sabia de todo encanto que existia guardado naquela pele morena e não queria vê-lo solto por ai a mercê de outras mãos, carícias, desejos e olhares.

Ela era sua criação, sua maior obra-prima! Planejou cada detalhe inspirado no calor que saia dos poros e na vivacidade daquele olhar. À medida que delineava suas formas, encantava-se e queria para si, queria que fosse real, não um simples manuscrito. E aos seus olhos ele a viu sair do papel e com a mesma rapidez que foi criada, ela tornou-se independente. Aprendeu os passos e saiu do papel, para as ruas e calçadas a brincar e entregar-se a todos, menos a ele.

Não queria ser tocada por aquela figura, pois se assustava com seus gestos. Foi embora, perdeu-se, correu atrás do nada e foi encontrada por ele, que a levou de volta para as páginas, de onde nunca devia ter saído, assim dizia.

Lá dentro, toda rabiscada de tinta, a pele marcada por palavras, não viu seu dono fazer as malas e deixar os cômodos. Ficou na escuridão, entre as folhas, fraca e sem calor. Mal sabia que era assim que ele a queria, pois quando voltasse iria moldá-la de acordo com as suas linhas.