domingo, junho 6

Ontem

Na noite anterior não havia nada programado. O autor do roteiro resolveu deixar as linhas em branco para que suas personagens pudessem guiar a trama madrugada a fora. Ele largou a caneta em cima da mesa, deixou as páginas na desordem, tirou os óculos e tentou esconder dos olhos o cansaço de muitos dias regrados a imaginação. Deitou-se na cama e esqueceu o mundo ao seu redor.

Enquanto isso, a pequena moça seguia seu caminho pela festa apinhada de gente. Havia mil e uma luzes em cor, muitos desconhecidos e uma brisa fria que aos poucos gelava suas mãos. A música tocava o ar e no meio da multidão dançante um rapaz a tirou para dançar. Mesmo com a manemolência dos seus passos, o bonito rapaz insistia em rodar pelo chão com as mãos na sua cintura no ritmo da música.

Ele ia e voltava e no meio de tanta gente eles se encontravam e trocavam algumas palavras. Mas sem querer beijou o amigo do desconhecido no rosto e resolveu desaparecer. Andou muito, dançou com segundos e fez calos nos pés.

Sentou-se para sentir o frio da madrugada e observar as pessoas bêbadas a passos trôpegos que sorriam e cantavam na felicidade infinita.

Até que o forasteiro sentou-se ao seu lado e sem constrangimento algum começou a conversar. Foi um papo gostoso, com sorrisos leves e divertidos. Tudo o que contou, fosse verdade ou não, parecia sincero. No entanto a timidez chegou e permitiu uma única lembrança antes do fim da noite.

E ficou como lembrança doce, que a pequena moça guardou com carinho para fantasiar depois outros encontros nas noites antes de dormir.

No outro dia ela voltou até lá; encontrou rostos conhecidos mas não do bonito rapaz. Ficou então a observar cada passo que a escada recebia, enquanto a música tocava a todo volume e as pessoas mexiam seus corpos no mesmo embalo. Os seus olhos percorreram o ambiente à procura, na esperança que o forasteiro aparecesse, antes da volta do autor, para fazê-la sorrir como na noite anterior.

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